domingo, julho 22, 2007

Deitas-te ao meu lado e adormeces. No teu sono profundo pronuncias o nome de alguém. Não entendo o teu balbucio, mas sei que não é o meu, mesmo estando deitado ao teu lado e tu me tenhas dito, antes de adormeceres, para te abraçar esta noite para sermos muito felizes. Levanto-me. O meu movimento suavemente brusco agita-te e silencias-te. Vou à varanda e olho a serra. Vejo os primeiros raios iluminar o céu, mas eu escureci por dentro com aquelas tuas palavras, imperceptíveis mas acutilantes. Fumei o primeiro cigarro juntamente com a primeira lágrima, quando fumei o ultimo já não tinha lágrimas e já era de dia. Notaste a minha ausência no leito em que descansavas, sem mim. Olhaste a janela e vendo o meu vulto chamaste-me com uma voz rouca e baça. Não respondi. Tu, que não me amas, mas que acreditas no conforto que te dou, viste ter comigo perguntando-me “que se passa?”, deixando no ar um odor de simpatia que inalei e fiz de conta que acreditava, escondendo-te a verdade que esta dentro de ti e que me revelaste no teu sono, sem saberes, e que eu fingi para mim esquecer naquele momento, escondendo de ti aquilo que escondeste de mim, porque o conforto que me dás é verdadeiro, ao contrario do amor que finges. Fomos de novo para a cama. Eu tinha o corpo frio e o teu ainda estava morno. Despidos e abraçados, exaltamos a nossa libido e, tu por desejo e eu por desgosto, entregamos os nossos corpos ao prazer carnal, num acto violento e doloroso, para mim que sofro por saber que não te entregas a mim apenas por escolheres, mas por não poderes ter o corpo que desejas.

Vamos no carro a ouvir o vento passar por cima de nós com a capota aberta. O rádio está desligado, simplesmente não se ligou. Vais a conduzir, estou cansado. Começas a falar. Não dizes nada de jeito! Eu olho para ti e peço-te para saíres na próxima saída, sentindo que sair do carro é a minha única saída. Quando paras e eu saio, dizendo-te que não vou continuar viagem contigo e para deixares a chave do carro com o porteiro, assusto-te. Mas eu não voltei a entrar, nem no carro nem em ti. E tu não saíste da minha cabeça ate hoje.