sexta-feira, setembro 21, 2007

Depois do Grito

Soltastes o grito! No vosso leito jaz agora cinza do que éreis. As paredes conspurcadas de nojo vosso, descansam agora nos rios que criastes e que espessamente flúem para o abismo do chão onde vos estendestes por nojo a vós mesmos, por nojo da vossa impossível separação, que vos faz jazer no vosso próprio fosso, que agora, sujo convosco, em nada se parece com o esconderijo que em tempos vós quisestes acreditar que era, e que era vosso apenas! Vós que vos traístes, sim que vos traístes de todas as formas que conseguistes, estais agora ai, no abismo, para onde corre o vosso próprio sangue e em poço, sem fundo, e amaldiçoado se converte. Ó tristes de vós que vos amastes infinitamente, que vos amastes ate à morte, que quisestes partilhar, secretamente por remorso, e que aceitastes como natural a vossa suprema penitência, não questionando para não ser questionado, sagrando o silêncio, para não magoar, para não sofrer, para não lavar a consciência com a dor do próprio veneno, a que não sois imunes. Porque não conseguíeis viver juntos, morrestes juntos, enfrentando a mentira de mão enlaçada sorrindo-vos, e a mentira sozinhos, chorando.