sábado, setembro 22, 2007

- Ai meu amor! Como te amo… não te quero perder nunca!

- Nunca, nunca, nunca?

- Sim! Quero-te para sempre! Sou muito feliz contigo…

Foram essas as palavras que dissemos antes de saíres pela minha porta e te ver entrar no elevador. Ainda me atiraste um beijo, que voou lentamente ate à minha boca.

Fui à janela para te ver entrar no carro. Vais a rir-te e a voltas-te para mim acenando-me, levas a mão à boca para enviares outro beijo mas um golpe fatal interrompe-te. Soltas um gemido abafado pela mão que te prende a boca. Uma voz rouca e baça, alucinada e magoada olha para cima e apontando-te no chão diz “Agora, nem para mim nem para ti!”, e desaparece na escuridão da cidade iluminada.

Tento-me a saltar para junto de ti. A meio do impulso seguro-me e corro para as escadas que desço furiosamente, lanços inteiros, chocando contra a parede, já sangrando, mas não sentido dor alguma, não me sentindo sequer.

Na rua está um cão a lamber o teu sangue. Ele foge quando me aproximo a correr e me derrubo sobre ti. Sobre o corpo que ainda há um momento amava na minha cama, quase nossa de tantas noites (será que foram assim tantas?) lá passadas contigo, deito as minhas lágrimas e largo os meus gritos coloridos com o teu sangue, com a cor da nossa paixão.

Há cinco dias que não saio de casa. Há cinco dias que não falo com ninguém. Há cinco dias que não vejo a luz do sol. Há cinco dias que me deito na cama onde te deitaste para tentar sentir mais um pouco do teu cheiro, para fazer entrar em mim mais um pouco de ti, do nada que agora resta de ti. O teu funeral foi na segunda. O meu foi no sábado.

Ainda não me banhei desde sábado. Quero o teu cheiro em mim de novo!! Porque que não estas comigo?! Quem era aquela pessoa?! Porque que eu não sei?! O teu passado obscuro que te matou, também me matou a mim! Já não tenho força para ter raiva. Mas o desejo de te vingar ainda mantém o meu corpo vivo, mesmo com o coração na tua urna.

Sempre me tiveste... mas quando é que eu te perdi?