domingo, maio 14, 2006

“Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa”, porque o real não é possível e o certo é sempre desconhecido. Assim a certeza da realidade se esbate na impossibilidade do desconhecido, como Lancelot, desconhecendo sua dama, a acha bonita mesmo já não vivendo, na impossibilidade de saber que esta morreu por si. Nem sempre fácil de entender, a “vida” depois da morte continua a correr como um rio, desaguando sempre no mar, e na infinita vergonha do passado no futuro, ouvimos o som de uma voz junto à nossa pele deixando-nos levar por ela. Assim seja feita a vontade do presente…


iel_b

sexta-feira, maio 12, 2006

Porque o amanhacer de alguns dias, no seu tom cinza, da aurora matinal, é maior que poemas que em branco esperam pelo futuro...


NO TEU POEMA

No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um céu aberto
Janela debruçada para a vida
No teu poema
Existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E aberta uma varanda para o mundo
Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da Senhora da Agonia e o cansaço
Do corpo que adormece em cama fria
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva, a luta, de quem cai ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte
No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonos inquietos de quem falha
No teu poema
Existe um cantochão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano
Existe um rio
O canto em vozes juntas, em vozes certas
Canção de uma só letra e um só destino a embarcar
No cais da nova nau das descobertas
Existe um rio
a sina de quem nasce fraco ou forte
o risco, a raiva e a luta de quem cai ou que resiste
que vence ou adormece antes da morte
No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo o mais que ainda me escapa
E um verso em branco à espera do futuro

José Luís Tinoco


Obrigado