quinta-feira, setembro 28, 2006

Olhando para o Tejo

Sentado na cama, olhando para o infinito do pequeno espaço que me envolve, vejo em todos objectos o meu reflexo, olho para todos os conjuntos atómicos e vejo-me neles, que não sou mais que eles, e a vida que me anima não é mais que uma dádiva a um objecto. Sou mais um pedaço de matéria dentro deste espaço que me envolve, um conjunto de átomos animado de vida. Na minha insignificância sinto-me grande, e maior ainda quando não vejo o meu reflexo espelhado neste pequeno espaço. A luz ténue que entra pela vidraça e percorre o pequeno espaço que me envolve. O murmúrio da cidade penetra neste espaço, e penetra-me tão profundamente que me recordo que também eu faço parte desse murmúrio. Sozinho, olhando para o espaço, pequeno e escuro, sinto-me levitar para outro lugar. Mais longe de mim que desta cama em que, agora, me deito. Deitado agora olho para o céu deste espaço e, num céu escuro, encontro-me e deleito-me com a certeza que ninguém me vê a sorrir. Sorrio apenas pela minha existência e sorrio mais, quase rio! Começo a chorar. A água que percorre agora o meu rosto, sinto-a maior que um rio, sinto que o Tejo banha este leito de solidão! Iludo-me agora, deitado neste leito, pensando que neste quarto não está mais nenhum conjunto atómico como eu. Respiro profundamente. Dou uma volta. Num movimento único fico em pé. Ponho uma música qualquer e dançando, sozinho, abraçado ao ar, decido que este espaço não é suficiente para o meu ser. Saio deste espaço. Continuo a percorrer espaços sucessivos. Chego à rua! Continuo a andar, olhando em frente como se tivesse, na minha mente, definido um caminho a percorrer. Mas não tenho. Estou à deriva, decidido a percorrer os espaços necessários ate não precisar de mais espaço. Chego ao Tejo. Olho-o como um sonhador e a claridade aumenta. Viro-me e olho agora para a cidade viva e penso. Eu sou maior que aquele pequeno espaço, eu sou mais que aqueles objectos, eu sou maior que a vida, eu sou maior que o Tejo. Eu estou vivo!!! Então sorrio e olho de novo para o rio, agora com desdém. Afinal não me iludi…
deep in your heart, deep in your soul........

Algures no íntimo de cada ser existe um pedaço de bondade. Algures no íntimo de cada homem existe a inveja. Mas apenas em alguns existe algures o amor verdadeiro, aquele que traz consigo a preocupação e a saudade, a dor no sofrimento e a alegria na presença. Apenas alguns desses homens vivem esse amor, aqueles a quem é concedido esse privilégio. A mim, tendo sido dada a capacidade de amar, não me é permitido. E, acorrentado com os ferros da solidão, vou vivendo dia após dia numa dor que me corrói por dentro e por fora, que me leva ao desespero, que me destrói, que me mata! Cada lágrima que engulo é um novo espinho que cravo no meu frágil coração...


iel_b

quarta-feira, setembro 20, 2006

O horror da dor guardada e o desespero do dia a dia, dia após dia, hora após hora, numa rotina fora do normal, e fora do contexto, persegue-me. Segue-me o vazio e o nada que sou e o tudo que quis ser. Acompanha-me a angústia de saber que há um novo momento depois deste em que peno. Entranha-se em mim o podre que me rodeia, e podre que sou desfaz a minha alma. Vou penando dia após dia neste mundo que me mantém vivo sem razão, ou só com a razão de me manter podre por dentro e podre por fora. Onde toco destruo, onde moro cheira mal, onde passo impressiono, onde choro mato, apodrecendo a cada momento, desejando a morte do meu ser, recordando a minha alma já morta por mim. Agora escrevendo o que sou e no que me tornei destruo as palavras que uso, matando a língua em que escrevo apenas por as usar!

iel_b

terça-feira, setembro 19, 2006

Loreena McKennitt - The dark night of the soul

Upon a darkened night
the flame of love was burning in my breast
And by a lantern bright
I fled my house while all in quiet rest

Shrouded by the night
and by the secret stair I quickly fled
The veil concealed my eyes
while all within lay quiet as the dead

Chorus
Oh night thou was my guide
oh night more loving than the rising sun
Oh night that joined the lover
to the beloved one
transforming each of them into the other

Upon that misty night
in secrecy, beyond such mortal sight
Without a guide or light
than that which burned so deeply in my heart

That fire t'was led me on
and shone more bright than of the midday sun
To where he waited still
it was a place where no one else could come

Chorus

Within my pounding heart
which kept itself entirely for him
He fell into his sleep
beneath the cedars all my love I gave
And by the fortress walls
the wind would brush his hair against his brow
And with its smoothest hand
caressed my every sense it would allow

Chorus

I lost myself to him
and laid my face upon my lovers breast
And care and grief grew dim
as in the mornings mist became the light
There they dimmed amongst the lilies fair
There they dimmed amongst the lilies fair
There they dimmed amongst the lilies fair


Loreena writes in the CD booklet about this song:

May, 1993 - Stratford ... have been reading through the poetry of 15th century Spain, and I find myself drawn to one by the mystic writer and visionary St. John of the Cross; the untitled work is an exquisite, richly metaphoric love poem between himself and his god. It could pass as a love poem between any two at any time ... His approach seems more akin to early Islamic or Judaic works in its more direct route to communication to his god ... I have gone over three different translations of the poem, and am struck by how much a translation can alter our interpretation. Am reminded that most holy scriptures come to us in translation, resulting in a diversity of views.
Music by Loreena McKennitt
Lyrics by St. John of the Cross (San Juan de la Cruz), arr. and adapted by Loreena McKennitt

sexta-feira, setembro 08, 2006

E agora, deitado à tua espera, reparo na minha pequenez, reparo no quão pequeno sou, e sinto que não vivo mais por viver, mas vivo para te esperar, sempre deitado nesta cama em que me sinto pequeno e sozinho, ainda sem ti.

E antes, quando não esperava por ti, quando o vazio preenchia o lugar que a solidão ocupou, esperava que o vazio morresse, como eu já tinha morrido, sem sequer nascer.

E depois disto tudo, depois do vazio e da horizontalidade neste quarto imenso onde eu, pequeno e sozinho, esperei, espero erguer-me ao ver-te abrir a porta e aproximar-te da cama, tornando-me subitamente grande e majestoso ao teu lado. Tu, que entrando, rasgando as páginas de solidão e preenchendo de novo esse espaço com calor do teu corpo, quase suado, entraste em mim para me fazer nascer desta morte maldita que me leva sempre a deitar-me esperando.

iel_b